Conteúdos exclusivos para ti
Tem acesso a conteúdos exclusivos por um dia, um mês, um ano, tu decides.
Subscreve os nossos planos
Numa cidade da Índia, viviam sete sábios cegos. Como os seus conselhos eram sempre excelentes, todas as pessoas que tinham problemas, recorriam à sua ajuda. Embora fossem amigos, havia uma certa rivalidade entre eles que, de vez em quando, discutiam sobre qual seria o mais sábio.
Certa noite, depois de muito conversarem sobre a verdade da vida e não chegarem a um acordo, o sétimo sábio ficou tão aborrecido, que resolveu ir morar sozinho numa caverna na montanha. Disse aos companheiros:
– Somos cegos para que possamos ouvir e entender melhor que as outras pessoas a verdade da vida. E, em vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí a discutir, como se quisessem ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora.
No dia seguinte, chegou à cidade um comerciante, montado num enorme elefante. Os cegos nunca tinham tocado nesse animal e correram para a rua ao seu encontro.
O primeiro sábio, apalpou a barriga do elefante e declarou:
– Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar nos seus músculos e eles não se movem. Parecem paredes!
– Que palermice! – disse o segundo sábio, tocando nas presas do elefante. – Este animal é pontiagudo como uma lança, uma arma de guerra!
– Ambos se enganam – retorquiu o terceiro sábio, que apertava a tromba do elefante. – Este animal é idêntico a uma serpente. Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia.
– Vocês estão completamente enganados! – gritou o quinto sábio, que mexia nas orelhas do elefante – Este animal não se parece com nenhum outro. Os seus movimentos são bamboleantes, como se o seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante…
– Vejam só! Todos vocês, mas todos mesmo, estão completamente errados! – irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena cauda do elefante – Este animal é como uma rocha, com uma corda presa no corpo. Posso até pendurar-me nele!
E assim, ficaram horas debatendo, aos gritos, os seis sábios. Até que o sétimo sábio cego, que agora vivia na montanha, apareceu, conduzido por uma criança. Ouvindo a discussão, pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tacteou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios estavam certos e enganados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou:
– É assim que os homens se comportam perante a verdade. Pegam apenas numa parte, pensam que é o todo e continuam tolos!
Discutir, no sentido de reflectir sobre algum assunto, apresentando argumentos que permitam chegar à verdade sobre uma questão é salutar. Mas penso que esta é uma arte que poucos dominam. Algures no meio das discussões, a procura da verdade parece ser substituída pelo desejo de “vencer” o outro, de mostrar que “se eu estou certo, tu estás errado”. Aliás, a maioria das discussões nem sequer começa com o objectivo de apurar alguma verdade!
A identificação com a forma é uma das armadilhas do ego. Se eu me identifico com os meus pensamentos, vou defendê-los a todo o custo. Se alguém não está de acordo com uma ideia minha, sinto isso como algo pessoal, acho que essa pessoa está contra mim. “Ou estás do meu lado, ou estás contra mim”. Para muitos, esta é a realidade e não há meio termo.
Quando isto acontece, a única coisa que nasce das discussões são egos ainda mais fortes. Cada pessoa agarrada ao seu pedaço de verdade, reforçando-a cada vez mais, criando resistência à verdade do outro.
Saber discutir de forma produtiva obriga a abrirmos mão da nossa verdade, pelo menos por um tempo, para termos espaço para ouvir e assimilar a visão do outro. Saber ouvir, ou melhor, escutar, é outro requisito essencial e nada fácil. Para podermos escutar realmente alguém, temos de silenciar a nossa mente, evitando os seus constantes julgamentos e interpretações. Temos de tentar ver o mundo através dos olhos do outro, para realmente o percebermos. Temos de ter a capacidade de chegar à conclusão de que podemos estar errados!
Cada pedaço de verdade é como a peça de um puzzle que, em conjunto com outras peças, forma uma imagem maior. Se eu junto o meu pedaço de verdade com os pedaços de verdade de outras pessoas, então, todos podemos chegar a uma verdade maior. E assim, sim, nasce a luz.
Se a tristeza foi criada e se as lágrimas existem, devem ter um propósito maior do que levar-nos a fugir delas. Quando alguém tem vontade de rir, não o esconde. Mas se a vontade é de chorar, a maioria de nós reprime-se para não o mostrar. Ou não chora de todo, ou espera para chorar sozinho.
Quando vemos alguém a rir, não achamos que seja estranho, não dizemos que pare de rir. Mas quando a maioria das pessoas vê alguém a chorar, parece ficar constrangido, sem saber o que fazer. E é muito comum dizer logo: “Oh, não chores”.
A tristeza é tão natural quanto a alegria. O choro é tão natural quanto o riso. Nada na natureza é permanente. A impermanência é a única grande permanência da vida. O equilíbrio não é estático. Os vários estados emocionais vão-se alternando, exactamente como o verão é seguido pelo outono…
Porque queremos apenas mostrar o nosso lado bem disposto, sorridente e guardamos o sofrimento cá dentro? Porque lidamos tão mal com aquilo que sentimos? Porque temos vergonha de manifestar as nossas emoções? Quando foi que deixamos de ser naturais e porquê?
Quando tentamos “controlar” as emoções, não estamos a fazer mais que reprimi-las. Se eu estou triste, mas tento escondê-lo e engolir as lágrimas, estou a ocultar a tristeza. Se estou contente e não o mostro, estou a reprimir a alegria. Se estou furiosa, mas escondo a raiva com um sorriso, ainda que, por dentro, esteja a ser corroída por ela, estou a reprimir a raiva.
Não sentir uma determinada emoção é uma coisa. Senti-la, mas tentar disfarçá-la, é outra bem diferente. E isto não é saudável, especialmente porque são as emoções “menos saudáveis” que tendemos a reprimir.
Porque não queremos “parecer fracos”, engolimos o choro e sofremos em silêncio. Porque queremos parecer “zen”, fingimos que já estamos acima dos simples mortais que ainda sentem raiva, ou ciúme. E assim vamos escondendo, reprimindo, engolindo. Acima de tudo, mentindo a nós próprios. E se é certo o que dizem, que uma mentira, de tantas vezes ser dita, se transforma em verdade, acabamos por acreditar nas mentiras que vivemos.
No entanto, como diz Laura Esquivel, “…as emoções não se podem dominar tão facilmente. Ninguém as consegue abolir. Podemos, quando muito, cobri-las com um manto de indiferença e não lhes prestar atenção, mas sem dúvida que elas continuam a afectar-nos por dentro.”
Sempre fui extremamente sensível e durante muito tempo, deixei que o mundo me convencesse que isso era uma fraqueza. Sempre fui de riso fácil, mas também sempre me comovi facilmente. Houve muitos momentos em que contive as lágrimas por ver que as pessoas não reagiam bem a elas. Até que percebi que, reprimirmo-nos é fácil, se pensarmos na força que é necessária para nos expormos e mostrarmos a nossa vulnerabilidade, sem medo da reacção dos outros.
Temos de ser verdadeiros connosco, reconhecendo o que sentimos (seja o que for) e aceitando. A aceitação é o primeiro passo para a transformação.
As situações e as pessoas que surgem na nossa vida são apenas estímulos que despoletam reações internas. O que sentimos é responsabilidade nossa e “problema” nosso. Não nos compete atirar o nosso “lixo” emocional para cima dos outros. Se tivermos um ataque de raiva, por exemplo, se estivermos com os nervos em franja, não devemos descarregar em cima de outros. Temos que ter consciência de que as emoções são energia que nos impulsiona para a acção. Gastemos, então, esta energia de forma positiva. Podemos canalizá-la para o trabalho ou para executar alguma tarefa que andamos a adiar há algum tempo. Podemos dar uma corrida, fazer uma prática de yoga bem forte, ou limpar a casa. Temos é de mexer! Mexer, dar uma direcção saudável à nossa energia.
Aprenda técnicas que o ajudem a aquietar. Pratique yoga e meditação, por exemplo. Aprenda a distanciar-se da sua mente, a observar os seus pensamentos e emoções de forma mais neutra, sem se deixar levar por eles de forma automática, pelos caminhos habituais.
Há dias, uma amiga ligou-me num momento de crise. Disse-me que estava quase a ter um ataque de choro e queria perguntar-me se havia alguma técnica que a ajudasse a acabar com aquilo. “Chora”, disse-lhe eu. Não há melhor maneira de pôr fim à vontade de chorar, do que chorar!
Se tiver vontade de rir, ria. Se tiver vontade de chorar, chore. Não sinta vergonha de o fazer, mesmo que seja à frente de outras pessoas. E se alguém ficar constrangido, o problema não é seu. Não deixe que o convençam que chorar é mau, que é perda de tempo, ou que é sinal de fraqueza. Há muita gente que, se chorasse, se deitasse cá para fora tudo o que reprime, seria muito mais feliz e saudável. Além disso, se chorar fosse fácil, haveria mais gente a fazê-lo. É necessário ter muita força interior e coragem para mostrar as vulnerabilidades e as fragilidades. Chorar não é sinal de fraqueza, mas sim de uma grande força. Muitos são os que têm coragem para colocar a sua vida em risco a praticar as mais variadas actividades radicais, saltando de precipícios e de aviões, mas não têm coragem para saltar dos seus abismos interiores, que são, sem dúvida, os maiores.
“Esta paixão de alguns anos não esmorece com o tempo. Pelo contrário, renova-se a cada dia! Com o yoga tem sido assim. A cada dia que passa, a cada prática, sinto-me cada vez mais abençoada por ter conhecido este caminho.” É assim que a Catarina começa este seu novo artigo, em que nos fala da importância de transformar a teoria em prática.
Esta paixão de alguns anos não esmorece com o tempo. Pelo contrário, renova-se a cada dia! Com o yoga tem sido assim. A cada dia que passa, a cada prática, sinto-me cada vez mais abençoada por ter conhecido este caminho.
Por vezes, é quando estamos mais na “mó de baixo”, quando mais precisamos de fazer algo por nós, que temos menos vontade de praticar. Isso acontece comigo e vejo-o acontecer com muitas outras pessoas. Se estamos tristes, em vez de ouvirmos música alegre, procuramos música que ainda nos põe mais tristes. Em vez de tentarmos pensar em coisas alegres, tendemos a pensar em tudo que de menos bom já nos aconteceu na vida e sentimo-nos uns “coitadinhos”. Em vez de nos pormos a mexer, deixamo-nos dominar pela inércia, pela falta de vontade, que só nos levam cada vez mais para baixo. Quando mais precisamos de fazer umas boas práticas para arrumar a confusão interna, é quando menos praticamos. Num ou noutro momento, penso que isto já aconteceu com todos. Parece que há algo em nós que se alimenta das nossas emoções mais densas e até fica contente quando estamos tudo, menos contentes. De que nos serve acumular ferramentas, se não as usarmos?
Aprender é bom. Mas, em algum momento, vamos ter de escolher um caminho e seguir em frente sem olhar para trás. Se assim não for, tudo o que aprendemos para o nosso auto-conhecimento e desenvolvimento não passa de teoria. Não sai do domínio mental, nunca chega a transformar-se em verdadeiro conhecimento, pois não é praticado.
Num dado momento da vida, tive de travar a minha curiosidade. Sempre fui “cusca”, gosto de aprender sobre isto e sobre aquilo… Mas percebi que, tantas ferramentas dentro da mochila só estavam a pesar e a abrandar o meu passo. Nestes últimos anos, em vez de acumular, dediquei-me a libertar pesos desnecessários.
Experimentem tudo o que quiserem até perceberem por onde querem avançar. Mas, uma vez descoberto o vosso caminho, sigam-no sem distracções. Não queiram fazer tudo ao mesmo tempo, não queiram explorar tudo e mais alguma coisa, porque este é um caminho que não leva a lado nenhum. Parece que andamos a fazer muito, mas não saímos do lugar. Simplifiquem…
Lembrem-se, seja yoga, ou outro caminho qualquer, o que importa é passar da teoria para a prática. Integrar as vivências na vida do dia a dia. Pratiquem, porque só assim verão os resultados. E quando menos vos apetecer praticar, lembrem-se que, provavelmente, é quando mais precisam.
Resoluções de ano novo fazem parte da tradição da maioria. Queremos aproveitar o impulso de um novo ciclo para, finalmente, concretizarmos alguns dos nossos objectivos. No entanto, as nossas intenções parecem não durar muito tempo e acabamos por cair nos mesmos hábitos e percorrer os caminhos mais percorridos.
O início de um novo ano é momento de celebração. Juntamo-nos com a família e amigos para a contagem decrescente dos últimos segundos do ano que acaba e desejamos a todos “um feliz ano novo”. Dizemos “que o ano novo traga tudo o que desejas” e lembramos a todos que devem entrar o ano com o pé direito.
São muitas as tradições que marcam o início de um novo ciclo: fazer oferendas a Iemanjá, usar roupa branca, comer doze passas com as doze badaladas da meia noite, usar lingerie colorida, pular sete ondas, entre outras. Todas elas oferecem a promessa de atraírem sorte, abundância, amor, saúde e tudo o que de bom desejamos para o ano que se inicia.
Guardamos para o novo ano tudo aquilo que andamos a empurrar com a barriga há imenso tempo, seja deixar de fumar, ir ao ginásio, fazer yoga, fazer dieta, etc. Agora é que vai ser! No entanto, como sabemos por experiência própria, a maior parte destas resoluções não dura muito tempo. Porque será?
A verdade é que não é difícil adoptar novos hábitos, difícil é cortar com os velhos. Fazer mudanças na nossa vida e evoluir para algo novo nem sempre é fácil. Muitas vezes parece que só mudamos à força, ou seja, quando a vida nos prega uma rasteira, nos tira o tapete e nos obriga a olhar com outros olhos para o que temos andado a fazer com ela.
Para plantarmos sementes, temos de escolher um solo fértil. As nossas resoluções são como sementes, que têm de ser plantadas quando a mente está serena e num estado receptivo. Se o fazemos num plano apenas intelectual, que é o que normalmente acontece, raramente traz resultados.
Para ter êxito, a resolução deve ser plantada com bastante intenção e força de vontade. Somos parte de uma campo energético que encerra em si todas as possibilidades e que responde tanto ao que pensamos, quanto ao que sentimos. Por isso mesmo, pensamentos e sentimentos têm de estar em sintonia, seguir a mesma direcção. Precisamos de uma intenção consciente, manifestada num pensamento claro e o coração aberto com uma emoção elevada. Ou seja, a realidade responde não ao que desejamos, mas ao que somos, ao tipo de energia que irradiamos.
Os mesmos pensamentos e os mesmos sentimentos vão criar mais do mesmo. Vão perpetuar a mesma realidade. É importante elevarmo-nos acima das circunstâncias externas e imaginarmos um novo desfecho para as situações da nossa vida. Ou seja, de nada adianta desejar e pensar em abundância, se no fundo, no fundo, nos sentimos pobres. De nada adianta pensar numa vida afectiva preenchida, num relacionamento amoroso maravilhoso, se no fundo, no fundo, não acreditamos que isso seja possível. Não funciona pensar numa direcção e sentir noutra completamente diferente.
A realidade é construída a partir do interior. A mudança só pode vir de dentro e exige coerência entre o que pensamos e sentimos.
Não precisa esperar pelo início de um novo ano para fazer resoluções. Pode plantar as sementes da mudança em qualquer altura, desde que esteja a sentir que é o momento certo. Mas antes de o fazer, lembre-se do seguinte:
– Não deixe que o exterior defina quem é, ou o que sente e pensa. Eleve-se acima das circunstâncias externas e crie pensamentos e sentimentos que sejam coerentes com aquilo que deseja, não com aquilo que tem. Se quer algo diferente, tem de fazer algo diferente. Os mesmos caminhos não levam a diferentes destinos.
– Não se preocupe com o “como”, não se preocupe com os detalhes. Deixe que a vida se encarregue disso. Faça apenas a sua parte, que é grande e é a mais importante. Defina a sua intenção com clareza e acredite. Confie. Sinta a realidade que deseja como algo que já existe. Algo que é real. SINTA. Crie a sua realidade internamente. Com convicção, determinação e confiança.
– Pratique a gratidão. E não seja grato apenas por aquilo que já tem. Não agradeça apenas por algo que já aconteceu. Simplesmente, pratique a gratidão na sua vida. Confie na vida e sinta-se grato pelo que tem e por aquilo que ainda há-de ter, por aquilo que já aconteceu e por tudo o que acredita que ainda vai acontecer.
As coisas simples são, muitas vezes, as mais importantes, mas temos tendência para esquecê-las. Por isso mesmo, desta vez, a Catarina decidiu partilhar connosco uma “lista” de algumas das coisas que considera essenciais para trabalharmos a nossa atitude na prática.
Aproveito o início das aulas, enquanto os alunos aquietam e ganham espaço para a prática, para relembrar o essencial: a atitude. É muito fácil perdermo-nos na ilusão das formas e deixarmos escapar o que realmente importa.
Começamos a executar os exercícios e, frequentemente, esquecemos que o importante é o que fazemos por dentro.
– Não espere pelo momento de se sentar no tapete para aquietar. Comece a fazê-lo a caminho das suas aulas. Assim que sai do trabalho, comece a abrandar por dentro, a prestar atenção à sua respiração, a relaxar. Se estiver no trânsito, não fique stressado a pensar que se vai atrasar. Ficar irritado não faz com que o trânsito ande mais depressa. Já basta chegar atrasado, não chegue também nervoso. Se no início das suas aulas já estiver descansado e com espaço, aproveitará muito melhor a prática.
– Os exercícios são uma óptima ajuda para “arrumar a casa interior”. No entanto, o ingrediente essencial é mesmo a sua vontade. Quando se senta no tapete, comprometa-se consigo e com a prática. Esteja realmente presente, com vontade e determinação. Não aproveite o aquietamento inicial da aula para rever a sua agenda, ou a lista de supermercado. Foque a sua atenção na prática. As técnicas ajudam, mas se não fizer a sua parte, elas não vão levá-lo muito longe.
– A verdadeira prática é a que faz por dentro. É o que não se vê, mas que influencia e dita o modo como faz tudo o resto. Do início ao fim, trabalhe a sua postura interior. Mantenha-se atento, presente, observando-se continuamente. Cultive uma atitude de tranquilidade, de observação passiva de cada momento. Foque a sua atenção na respiração e faça dela a âncora que o mantém no presente. Seja quando está confortavelmente sentado ou deitado, seja em momentos em que se depara com desafios e dificuldades, mantenha sempre essa mesma atitude.
– Imagine uma carruagem puxada por dois cavalos: um chamado corpo e o outro chamado mente. Se não caminharem juntos na mesma direcção, o que acontecerá à carruagem? Nós somos o condutor desses cavalos e a respiração são as rédeas com as quais os conduzimos e controlamos. Faça da respiração a sua prioridade. Se estiver com dificuldades em respirar, pare, descanse. Caso contrário, parece-lhe que a carruagem continua a andar, mas não está a ir para lado nenhum porque, sem a respiração, não tem controlo sobre o corpo, nem sobre a mente. E com os cavalos desgovernados, lá se vai a atitude correta. Lá se vai a prática.
– Uma coisa é parar a prática e outra coisa é parar e descansar de um exercício. Sempre que o seu corpo lhe enviar sinais de que precisa descansar, descanse. Pare o tempo que for preciso até estar novamente em condições de recomeçar. No entanto, mesmo esses momentos de descanso, continuam a fazer parte da sua prática. Interiormente, o trabalho continua. Por isso, descanse à vontade, mas mantenha a prática interior.
– Todos esperam tirar prazer da prática e saírem melhor do que entraram. Mas não pode colocar essa responsabilidade apenas sobre a aula, porque ter ou não prazer a fazer alguma coisa também depende de si. Coloque prazer ao fazer a prática. Em vez de pensar só no que a aula tem para lhe dar, pense no que tem para dar à sua aula. Ou seja, o que tem para dar a si próprio. Entregue-se de corpo e alma, como se não houvesse amanhã. Vá para as suas aulas contente por poder ir, feliz por ter oportunidade de fazer algo de que gosta e que lhe faz bem. Não fique frustrado quando não conseguir fazer alguma coisa. Pare de dizer “Não consigo”. Lembre-se do poder que os nossos pensamentos têm. Quando muito, diga “não consigo, AINDA!”. Mas fique grato pelos obstáculos, já que são eles que vão ajudá-lo a perceber as suas fraquezas e a transformá-las nas suas forças. Não fuja do que é difícil. Não fique desmotivado. Confie em si. Acredite em si. Acredite que não se conhece e que é capaz de muito mais do que imagina. Em vez de franzir a testa e ficar com cara de quem comeu um limão, sorria! Ninguém o obriga a praticar. A aula, por mais difícil que possa ser, não é para o fazer sofrer. Por isso, encontre a sua motivação (o seu motivo para a acção) e aproveite cada instante. Coloque nas suas mãos a responsabilidade de acabar a aula melhor do que estava quando começou.
O yoga pode ajudar bastante durante a gravidez, mas há exercícios que devem ser evitados. Veja o que a Catarina aconselha para melhor adaptar a prática a esta nova fase de vida.
A gravidez é um período muito especial na vida das mulheres, em que elas passam por mudanças drásticas a todos os níveis. É comum as grávidas apresentarem sintomas físicos, tais como: dores nas costas, refluxo gástrico, retenção de líquidos, pernas inchadas, etc.
O yoga pode ajudar bastante e, desde que com autorização médica, poderá ser uma boa opção para si nesta fase. No entanto, há exercícios que devem ser evitados.
Extensão da coluna é o movimento em que flectimos o tronco para trás. As extensões de grande amplitude, como Urdhva Dhanurasana, por exemplo, provocam um intenso alongamento do abdómen. Uma vez que, durante a gravidez, o abdómen já é naturalmente bastante esticado, fazer esses movimentos pode aumentar o risco de diástese abdominal (afastamento dos músculos abdominais). Deverá optar por extensões muito suaves.
Há quem diga que se pode fazer invertidas durante a gravidez, há quem diga que é melhor não. Outros preferem deixar ao critério da mãe. Se se sentir bem, pode fazê-las mas se for desconfortável é melhor não fazer. Eu estou do lado dos que dizem que é melhor não fazer, especialmente invertidas sobre a cabeça, antebraços ou mãos, uma vez que estas exigem mais equilíbrio e, durante a gravidez, em que o ponto de equilíbrio muda radicalmente, é melhor evitar o risco de queda. Além disso, queremos evitar posições que desviem o fluxo de sangue do bebé, como acontece nas invertidas. Mas, independentemente de acharmos que se pode ou não fazê-las, penso que, numa coisa, estamos todos de acordo: a gravidez não é a melhor altura para desafiar o corpo. A gestação já é desafio suficiente. E depois da gravidez há muito tempo para ficar de cabeça para baixo.
Posições em que esteja deitada sobre o abdómen, por razões óbvias, devem ser evitadas. Por vezes é mesmo impossível fazê-las. Deitar de barriga para cima pode tornar-se muito desconfortável devido à compressão da veia cava inferior, especialmente nos últimos tempos da gravidez. Para o relaxamento, experimente deitar-se de lado, pousando a cabeça numa almofada e colocando outra entre as coxas para maior estabilidade da bacia.
Fortalecer o abdómen continua a ser positivo durante a gravidez, mas deve optar por exercícios leves, que vão ajudar a diminuir as dores da lombar e pélvicas e contribuem também para uma melhor recuperação pós-parto. No entanto, convém fazê-lo com a orientação de um professor experiente, que possa indicar quais os exercícios mais apropriados a cada fase da sua gravidez.
Torções intensas, como parivrtta parsvakonasana, ou mesmo ardha matsyendrasana, podem também não ser a melhor escolha para esta fase. Deve optar por torções mais simples, que ajudam a aliviar dores nas costas sem comprimiem o abdómen. A torção deverá ser executada com maior incidência no tórax, em vez de torcer muito ao nível do abdómen.
Exercícios de relaxamento e de pranayama são excelentes durante a gravidez. Mas, no que toca à respiração, há alguns exercícios contraindicados, como é o caso do bhastrika, kapalabhati e retenções prolongadas. A respiração alternada, com ou sem ritmo, é um excelente exercício, assim como a simples respiração completa e respiração abdominal.
Durante a gravidez há maior risco de alongar em demasia, porque o corpo produz uma hormona (relaxina) que estimula a flexibilidade do osso público e relaxa as cartilagens em todo o sistema ósseo. Há que movimentar o corpo com consciência, sem exageros. Respire, relaxe. Aproveite as ferramentas do yoga durante a gravidez, essencialmente, para se nutrir. E lembre-se que a gravidez não é tempo para se preocupar com a performance nos asanas. Use o seu tempo de prática para se ligar ao seu bebé. Ele (ou ela) vai estar a praticar também! E a sentir, consigo, todos os benefícios da prática: o corpo que expande e relaxa, o sangue a circular com energia, o espaço que se abre no peito e se enche de gratidão. Viver estes momentos com o seu bebé que tudo sente lá dentro de si vai trazer-lhe, certamente, ferramentas preciosas que o/a ajudarão a crescer saudável e feliz.
Um texto muito pessoal da Catarina, que partilha connosco um pouco dos seus primeiros anos de prática de yoga.
Não sou daquelas pessoas que fixam datas e sabem exactamente quando começaram a praticar yoga, por exemplo. Eu sei que comecei algures nos meus dezassete anos, porque foi com essa idade que, pela primeira vez na vida, me inscrevi num ginásio e foi lá que conheci aquele que viria a ser o meu primeiro professor de yoga.
Lembro-me que fiz umas aulas em que o yoga, para mim, não passava de exercício físico. Alongamentos que me custavam imenso a fazer e me levaram a pensar que talvez eu tivesse nascido com as vértebras fundidas umas nas outras, tal era a rigidez…
Assim comecei. A praticar uma vez por semana, depois duas…até que acabei por praticar de segunda a sábado.
As aulas que eu tinha, na altura, eram extremamente físicas. Aliás, nesses primeiros três anos, aproximadamente, asana era tudo o que fazíamos. Só mais tarde fui apresentada à prática de pranayama, mantra, meditação… No entanto, o que começou por ser uma aula de exercícios físicos diferentes dos que eu fazia no ginásio, acabou por ser muito mais. Comecei a sentir coisas como nenhuma outra actividade me tinha feito sentir. Sem saber muito bem o que me estava a acontecer e, muito menos, como estava a acontecer, eu estava a mudar. E a mudança era cá dentro.
Ainda hoje é difícil explicar este processo de transformação interior que o yoga traz à nossa vida. Só sabia que estava diferente. Via a vida de forma diferente. Pensava, sentia e agia de forma diferente.
As aulas, por vezes, tinham hora para começar mas não tinham hora para acabar. O meu professor era muito exigente. Era levada ao extremo, forçada a enfrentar e ultrapassar os meus limites.
A verdade é que, através do corpo, fui-me apercebendo que existia em mim uma força imensa. E que eu só precisava tomar consciência e aprender a chegar a ela. Foi-se tornando óbvio, também, que essa força não era “física”. A força do corpo rapidamente se esgotava com a exigência das práticas. Era algo maior. Mais subtil mas muito mais forte!
Quando as aulas acabavam eu estava corada, cabelos desalinhados, toda suada, mas de cabeça e peito bem erguidos, com uma incrível sensação de força. Naqueles momentos, sentia que não havia nada que não conseguisse fazer na vida.
Tudo isto começou pelo corpo, a porta para uma outra realidade…
Descobri um outro “eu”, para além daquele que tinha conhecido e sido até então. Comecei a ver-me com outros olhos. Com os meus olhos! Comecei a ver-me como eu era, não como os outros me tinham convencido que eu era.
Yoga. E como poderia a vida continuar a ser a mesma?
São muitas as pessoas que perguntam o que devem fazer para conseguirem praticar sózinhas. A disciplina é como um músculo. Com trabalho, fica mais forte. Neste texto a Catarina partilha connosco o que a ajudou a criar o hábito.
É muito comum ouvir alunos dizerem que não têm disciplina para praticarem sozinhos. Compram tapetes, têm a intenção de acordar mais cedo para fazerem yoga antes do dia começar, etc, mas desanimam rapidamente, porque não conseguem manter essa resolução por muito tempo.
Pratico diariamente sozinha, mas nem sempre foi assim. Também eu passei pelas dificuldades que a maioria das pessoas passam quando querem criar esse hábito. Sempre me tinha considerado disciplinada e, de facto, até o era, em muitas coisas. Mas quando chegava o momento de desenrolar o tapete e fazer uma prática, nem sempre o conseguia.
Após muitas tentativas falhadas, finalmente consegui. O que vou partilhar convosco são algumas coisas que me ajudaram a criar o hábito:
– Praticar sempre na mesma hora/altura do dia – acredito que o importante é praticar regularmente, seja a que horas for. A hora certa é quando temos tempo. No entanto, comigo funcionou praticar sempre à mesma hora (pelo menos, sempre na mesma altura do dia). Todos nós temos uma rotina diária já criada e bem enraizada. Por vezes é difícil arranjar espaço para algo mais, especialmente quando as 24h do dia parecem não ser suficientes para tudo o que temos de fazer. É mais difícil arranjar tempo quando estamos à espera de ter tempo. Dá para entender?
No meu caso percebi que a melhor altura para mim é de manhã cedo. Depois de passear os meus cães, que é a primeira tarefa diariamente, antes de tomar pequeno almoço e entrar no corropio do quotidiano, arranjo tempo para mim. Não importa quanto. Pouco é melhor que nada. Além disso, de manhã é quando me sinto com mais energia.
Se esperamos que haja uma aberta na agenda para encaixarmos a nossa prática, arriscamo-nos a que isso nunca aconteça. A minha sugestão é que, perante os vossos afazeres do dia a dia, qual a altura em que mais gostam de praticar, etc, escolham o momento em que vão fazer por arranjar tempo.
– Pouco é melhor que nada – às vezes o que me impedia de ir para o tapete era pensar que não tinha tempo para fazer uma prática completa, de pelo menos uma hora, etc. Mas, como também sempre digo, mais vale 5 minutos diariamente do que 2 horas de 15 em 15 dias. E vejo que este é também um obstáculo para muitos. Não pensem que precisam fazer uma hora inteira de prática. Pensem que vão fazer o que puderem. Nem que sejam dez minutos. Por vezes até é melhor começar com pouco tempo de cada vez. Para uma prática de 60 minutos, podemos arranjar o pretexto da falta de tempo. Mas para 10 minutos… já não é uma desculpa muito boa, não acham? Um bocadinho hoje, um bocadinho amanhã… quando perceberem, já persistiram o suficiente para criarem o hábito. E rapidamente esses dez minutos se transformam em 15 ou 20.
– Praticar sempre no mesmo local – sabem quando vão fazer aula de yoga com o vosso professor e, só de entrarem na escola, já se sentem a relaxar? Tenho alunos que brincam com o facto de começarem a bocejar assim que entram na sala. Escolhermos uma divisão, ou parte de uma divisão da nossa casa para ser o nosso espaço de prática, é importante. É o nosso “refúgio”, um local só nosso, pelo menos pelo tempo de uma prática. É o lugar onde fechamos a porta ao mundo e nos focamos em nós.
– Estabelecer metas menos ambiciosas – Queremos passar de não termos disciplina para manter uma prática, para querermos praticar todos os dias da semana. É uma meta ambiciosa. O problema é que basta falharmos um dia, que já falhamos o objectivo. E isso vai dar ainda mais força à convicção de que não conseguimos praticar sozinhos, não temos disciplina, etc. Enquanto que, se tiverem como meta fazer, por exemplo, duas práticas na semana, têm mais hipóteses de o conseguir. Mesmo que tenham planeado fazer à 2ªf e 4ªf e não consigam num destes dias, pelo menos ainda têm vários outros dias da semana para compensar.
Resumindo, devagar se vai ao longe. Sejam persistentes, mas também pacientes convosco nos dias em que as coisas não correrem tão bem. A disciplina também tem de ser disciplinada.
Quando perguntamos à Ivone como gostaria de ser apresentada, as suas palavras foram apenas: “digam que abracei o yoga e a vida com muita gratidão”. Assim é a Ivone, uma pessoa muito especial e que escreve de uma forma especial.
Yoga Nidra, o “sono do yoga”: uma vivência de união profunda em que a consciência se situa entre a vigília e o sono, onde os sentidos e as percepções internas acordam e ganham mais acuidade. O corpo descansa, as emoções acalmam e a mente relaxa. Ficamos em paz, nesse estado de união que nos faz sentir inteiros.
Durante o tempo em que dura o exercício, o corpo físico relaxa progressivamente. E tão profundamente que a mente consegue acalmar e repousar numa sensação de tempo em pausa. Os pensamentos continuam lá, saltam de um lado para o outro, mas olhamos para eles de outra forma, com outra distância e mais tolerância. Até porque a consciência está “ocupada” com a descoberta de uma outra acuidade, de um outro grau de percepção. A descoberta da capacidade de sentir e de “ver” uma realidade nova, que se manifesta como se fosse uma história, uma cor, uma temperatura, um espaço difícil de definir. Os sentidos crescem, expandem-se e parece que entram numa outra dimensão onde o olhar capta um outro brilho e o ouvido uma outra vibração.
O corpo, cansado mas regenerado por uma prática física preparatória (ainda que curta), deixa-se relaxar em savasana (a posição de relaxamento) e, à medida que se vai desenrolando a rotação de consciência pelas várias partes do corpo e aprofundando a observação da respiração, do peso e da leveza do corpo físico, cresce uma outra sensação subtil, como se alguém cá dentro acordasse de um outro sono e viesse ocupar um espaço que lhe pertence. É uma sensação de calma e de reencontro que se vai aprofundando ao longo do exercício.
Entra-se num estado meditativo em que, por vezes, até a voz que nos conduz se funde com a nossa consciência. É como se estivesse também cá dentro e se transformasse num impulso interno que nos orienta na viagem.
Quando a indução do Sankalpa (resolução interior) nos “apanha” nesse estado de mergulho profundo em nós próprios, cresce também uma convicção que se apropria de nós. A intenção funde-se com a decisão e cresce como uma verdade forte, muito evidente e pacificadora. E as visualizações levam-nos a recantos da memória muitas vezes esquecidos. Nem todos pacíficos, nem todos agradáveis, mas todos verdadeiros. E com uma mensagem difícil de traduzir por palavras porque é sentida mais do que compreendida.
Às vezes, a “viagem” toma conta da consciência e é fácil perdermo-nos, isto é, é fácil perder a consciência do corpo físico, do “aqui” e do “agora” físicos, o local e o momento em que estamos. O espaço e o tempo transformam-se em outro “aqui” e outro “agora”. E nem sempre o regresso ao corpo é bem vindo… Apetece continuar a viajar pelos mundos invisíveis do inconsciente, absorver mais informação, descobrir novas paisagens, novos sentidos… Apetece descolar da voz que nos conduz e continuar por ali fora, um pouco sem rumo a ver o que acontece. Mas depois de “regressar”, ainda que com alguma nostalgia, o corpo e a mente agradecem porque se sentem integrados, frescos, renovados e, ao fim de algum tempo, capazes de uma atenção redobrada.
Tem acesso a conteúdos exclusivos por um dia, um mês, um ano, tu decides.
Subscreve os nossos planos