A natureza também chora

Fevereiro 11, 2018

Texto de Catarina Mota

 

 

Se a tristeza foi criada e se as lágrimas existem, devem ter um propósito maior do que levar-nos a fugir delas. Quando alguém tem vontade de rir, não o esconde. Mas se a vontade é de chorar, a maioria de nós reprime-se para não o mostrar. Ou não chora de todo, ou espera para chorar sozinho.

 

Quando vemos alguém a rir, não achamos que seja estranho, não dizemos que pare de rir. Mas quando a maioria das pessoas vê alguém a chorar, parece ficar constrangido, sem saber o que fazer. E é muito comum dizer logo: "Oh, não chores".

 

A tristeza é tão natural quanto a alegria. O choro é tão natural quanto o riso. Nada na natureza é permanente. A impermanência é a única grande permanência da vida. O equilíbrio não é estático. Os vários estados emocionais vão-se alternando, exactamente como o verão é seguido pelo outono...

 

Porque queremos apenas mostrar o nosso lado bem disposto, sorridente e guardamos o sofrimento cá dentro? Porque lidamos tão mal com aquilo que sentimos? Porque temos vergonha de manifestar as nossas emoções? Quando foi que deixamos de ser naturais e porquê?

 

Quando tentamos “controlar” as emoções, não estamos a fazer mais que reprimi-las. Se eu estou triste, mas tento escondê-lo e engolir as lágrimas, estou a ocultar a tristeza. Se estou contente e não o mostro, estou a reprimir a alegria. Se estou furiosa, mas escondo a raiva com um sorriso, ainda que, por dentro, esteja a ser corroída por ela, estou a reprimir a raiva.

 

Não sentir uma determinada emoção é uma coisa. Senti-la, mas tentar disfarçá-la, é outra bem diferente. E isto não é saudável, especialmente porque são as emoções "menos saudáveis" que tendemos a reprimir.

 

Porque não queremos "parecer fracos", engolimos o choro e sofremos em silêncio. Porque queremos parecer "zen", fingimos que já estamos acima dos simples mortais que ainda sentem raiva, ou ciúme. E assim vamos escondendo, reprimindo, engolindo. Acima de tudo, mentindo a nós próprios. E se é certo o que dizem, que uma mentira, de tantas vezes ser dita, se transforma em verdade, acabamos por acreditar nas mentiras que vivemos.

 

No entanto, como diz Laura Esquivel, “…as emoções não se podem dominar tão facilmente. Ninguém as consegue abolir. Podemos, quando muito, cobri-las com um manto de indiferença e não lhes prestar atenção, mas sem dúvida que elas continuam a afectar-nos por dentro."

 

Sempre fui extremamente sensível e durante muito tempo, deixei que o mundo me convencesse que isso era uma fraqueza. Sempre fui de riso fácil, mas também sempre me comovi facilmente. Houve muitos momentos em que contive as lágrimas por ver que as pessoas não reagiam bem a elas. Até que percebi que, reprimirmo-nos é fácil, se pensarmos na força que é necessária para nos expormos e mostrarmos a nossa vulnerabilidade, sem medo da reacção dos outros.

 

Temos de ser verdadeiros connosco, reconhecendo o que sentimos (seja o que for) e aceitando. A aceitação é o primeiro passo para a transformação.

 

As situações e as pessoas que surgem  na nossa vida são apenas estímulos que despoletam reações internas. O que sentimos é responsabilidade nossa e "problema" nosso. Não nos compete atirar o nosso "lixo" emocional para cima dos outros. Se tivermos um ataque de raiva, por exemplo, se estivermos com os nervos em franja, não devemos descarregar em cima de outros. Temos que ter consciência de que as emoções são energia que nos impulsiona para a acção. Gastemos, então, esta energia de forma positiva. Podemos canalizá-la para o trabalho ou para executar alguma tarefa que andamos a adiar há algum tempo. Podemos dar uma corrida, fazer uma prática de yoga bem forte, ou limpar a casa. Temos é de mexer! Mexer, dar uma direcção saudável à nossa energia.

 

Aprenda técnicas que o ajudem a aquietar. Pratique yoga e meditação, por exemplo. Aprenda a distanciar-se da sua mente, a observar os seus pensamentos e emoções de forma mais neutra, sem se deixar levar por eles de forma automática, pelos caminhos habituais.

 

Há dias, uma amiga ligou-me num momento de crise. Disse-me que estava quase a ter um ataque de choro e queria perguntar-me se havia alguma técnica que a ajudasse a acabar com aquilo. "Chora", disse-lhe eu. Não há melhor maneira de pôr fim à vontade de chorar, do que chorar!

 

Se tiver vontade de rir, ria. Se tiver vontade de chorar, chore. Não sinta vergonha de o fazer, mesmo que seja à frente de outras pessoas. E se alguém ficar constrangido, o problema não é seu. Não deixe que o convençam que chorar é mau, que é perda de tempo, ou que é sinal de fraqueza. Há muita gente que, se chorasse, se deitasse cá para fora tudo o que reprime, seria muito mais feliz e saudável. Além disso, se chorar fosse fácil, haveria mais gente a fazê-lo. É necessário ter muita força interior e coragem para mostrar as vulnerabilidades e as fragilidades. Chorar não é sinal de fraqueza, mas sim de uma grande força. Muitos são os que têm coragem para colocar a sua vida em risco a praticar as mais variadas actividades radicais, saltando de precipícios e de aviões, mas não têm coragem para saltar dos seus abismos interiores, que são, sem dúvida, os maiores.

 

 

Comentários

Obrigada, Catarina, pelo teu texto tão positivo que nos lembra que somos Natureza também, aproximando-nos da nossa essência tão reprimida, tantas vezes, por normas que consideramos normais e pela força da aparência que não passa de uma máscara… A aceitação, sim, é que nos leva a ser felizes e, afinal, é para isso que vivemos! Realmente não podemos esquecer de olhar o céu, mesmo que passem nuvens! Porque as nuvens passam e podem distrair muito…

Hoje falta uma parte de mim
Meu COOKIE virou estrelinha
Precisava realmente deste texto , para liberar o choro é aliviar a alma.

Lamento pelo seu Cookie… mas estará lá em cima a olhar por si e sempre dentro do seu coração.
Sim, chorar é um exfoliante para a alma 🙂
Obrigada Rosalice e um beijinho

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