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Já paraste para pensar no poder das pequenas ações? Cada um de nós tem a capacidade de mudar o mundo de quem está à nossa volta, mesmo que seja de forma simples e sutil. Espalhar bondade, como um sorriso, uma palavra amável ou um simples “bom dia”, pode transformar o dia de alguém. Pequenos gestos de bondade têm um efeito cascata, inspirando outros a fazer o mesmo. Quando vemos uma pessoa em necessidade, oferecer a nossa ajuda pode fazer uma grande diferença. Pode ser tão simples quanto segurar a porta para alguém passar ou ajudar um colega com uma tarefa difícil. A sensação de apoio e solidariedade cria uma comunidade mais unida.
Muitas vezes, tudo o que é preciso é que alguém escute. Dedicar tempo para ouvir genuinamente as pessoas ao nosso redor pode fazê-las sentir-se valorizadas e compreendidas. Seja ensinando algo novo, oferecendo conselhos ou compartilhando experiências, podemos ajudar os outros a crescer. Mostrar gratidão pelas coisas boas nas nossas vidas e expressar essa gratidão aos outros pode fortalecer as relações e promover uma atmosfera positiva.
As ações falam mais alto que as palavras. Ser um exemplo de integridade, respeito e empatia pode inspirar os outros a seguir o mesmo caminho. Participar de atividades voluntárias na nossa comunidade é uma maneira tangível de causar um impacto positivo. Pode ser ajudando num abrigo, participando de projetos ambientais ou apoiando iniciativas locais. Cuidar do meio ambiente é também cuidar das futuras gerações. Pequenas ações como reciclar, reduzir o uso de plásticos e economizar energia contribuem para um mundo melhor. Mostrar resiliência diante dos desafios pode inspirar aqueles ao nosso redor a enfrentarem as suas próprias dificuldades com coragem e determinação. Acima de tudo, espalhar amor e compaixão. O amor é uma força poderosa que pode transformar vidas e criar um mundo mais harmonioso.
Lembra-te, cada pequena ação conta. Ao fazer a nossa parte, por menor que seja, contribuímos para um efeito positivo no mundo ao nosso redor. Juntos, podemos criar um impacto significativo e fazer a diferença.
Como praticante de yoga há muitos anos, fui sentindo que um tapete é mais que um simples objeto sobre o qual praticamos. Talvez por isso, não troquei muitas vezes de tapete até hoje. Quando me sento para praticar, sou inundada por uma sensação de “cheguei a casa”: Eu sei que tem mais a ver com o encontro comigo que com o tapete em si, mas acredito que essa energia de casa vai impregnando o tapete, as vivências vão-se acumulando nele e o velho tapetinho torna-se um companheiro de prática. Conheço-o bem e ele a mim.
A conexão que desenvolvemos com o nosso tapete de yoga ao longo dos anos é algo muito especial. É como se ele se tornasse uma extensão de nós mesmos, testemunhando a nossa prática, acolhendo as nossas experiências e energias a cada dia. Ele pode tornar-se um refúgio, um santuário onde nos podemos reconectar com a nossa prática e connosco. Cada dobra, cada marca, conta uma história – a nossa história de prática e autoconhecimento.
Existem tapetes feitos de uma variedade de materiais, cada um com as suas próprias características únicas. Os tapetes de borracha natural oferecem uma aderência excepcional e são uma escolha popular para praticantes que suam bastante durante a aula. Por outro lado, os tapetes de PVC são duráveis e fáceis de limpar, sendo uma opção prática para quem prefere uma manutenção simples. Já os tapetes de juta ou algodão orgânico são mais ecológicos e proporcionam uma sensação natural ao toque, sendo ideais para quem valoriza materiais sustentáveis. Os tapetes de cortiça são uma excelente opção para quem procura uma superfície antiderrapante e sustentável. A cortiça é naturalmente resistente a odores e bactérias, tornando-a uma escolha higiénica para a prática regular. Além disso, a textura única da cortiça proporciona uma aderência superior, mesmo quando as mãos e os pés estão suados. Esses tapetes são uma escolha popular entre os praticantes que buscam uma opção ecologicamente correta e de alta qualidade. Ao escolherem um tapete, considerem também a espessura e o comprimento para garantir que atendem às vossas necessidades individuais de conforto e espaço durante a prática.
Quanto à espessura, varia conforme a preferência. Tapetes finos de 3 mm são ótimos para posturas que exigem estabilidade, enquanto os mais espessos de 5 mm a 6 mm oferecem conforto extra, especialmente para práticas suaves. Escolhe conforme as tuas necessidades e preferências, garantindo conforto e estabilidade durante a tua prática
Ao escolheres o teu tapete de yoga, dá prioridade à textura que oferece a melhor aderência para a tua prática. Assim, poderás desfrutar de uma prática mais segura e estável, evitando escorregar e assim diminuindo o risco de lesões.
Cuidar adequadamente do teu tapete de yoga é essencial para garantir a sua longevidade e higiene. Limpa o teu tapete após cada sessão para remover suor, óleos corporais e pó. Utiliza um spray de limpeza suave feito com água e vinagre branco ou um detergente suave diluído em água. Após aplicares a solução de limpeza, passa um pano ou uma esponja macia húmida e depois passa um pano seco. Deixa secar bem antes de enrolar.
Optar por materiais como borracha natural, juta, algodão orgânico ou PVC livre de ftalatos não só promove práticas mais éticas, mas também contribui para a preservação dos recursos naturais e para a saúde do planeta a longo prazo. Além disso, muitas empresas que produzem tapetes de yoga sustentáveis também adotam práticas de fabricação conscientes, minimizando resíduos e emissões prejudiciais. Ao fazer escolhas conscientes, podemos praticar yoga não apenas para o nosso bem-estar, mas também para o bem do nosso ambiente.
Se estás a ler este artigo, é possível que estejas a dar os teus primeiros passos no yoga. Começar a praticar é uma experiência incrivelmente gratificante, mas também pode ser um pouco intimidante para os iniciantes. Não te preocupes – estou aqui para te ajudar nesta viagem, compartilhando algumas dicas valiosas que te irão ajudar a tirar melhor partido da tua prática.
Permanece atento aos sinais que o teu corpo te dá durante a prática. Não forces além dos teus limites e adapta as posturas conforme necessário para se adequarem às tuas necessidades e capacidades de cada momento.
A respiração é fundamental no yoga. Faz da respiração a tua prioridade ao longo da prática. Sempre que sentires dificuldade em controlar a respiração, descansa um pouco até que o teu ritmo respiratório e cardíaco estejam normais.
Se és novo no yoga, é recomendável começares com aulas para iniciantes. Isso permitirá que aprendas as bases corretamente e evites lesões.
Se necessário, utiliza acessórios como blocos, cintos e almofadas nas posturas. Eles podem ser úteis para alcançar uma maior estabilidade e conforto.
Para colher os benefícios do yoga, é importante praticar regularmente. Mesmo que seja apenas por alguns minutos todos os dias, manter uma prática consistente ajudará a desenvolver força, flexibilidade e equilíbrio ao longo do tempo.
Experimenta diferentes estilos de yoga e abordagens. Cada um de nós é único e o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Mantém uma mente aberta e disposta a explorar o que ressoa melhor contigo.
Não tenhas expectativas de conseguir, nos primeiros tempos, a execução perfeita das técnicas. Para a maioria dos exercícios é necessário um período de prática regular, que pode ir de alguns dias, a várias semanas ou meses. Algumas técnicas demoram mesmo alguns anos a aperfeiçoar.
Uma das armadilhas mais comuns para os praticantes de yoga em geral é a tendência de se compararem aos outros. Cada corpo é único e cada pessoa tem o seu processo individual. Comparares-te com os outros pode levar a sentimentos de inadequação e desmotivação. Lembra-te que o yoga vai muito para além do que fazes com o teu corpo.
O yoga é um caminho, não um destino. Lembra-te e aceita que o progresso é gradual e que haverá altos e baixos. Sê gentil contigo mesmo e celebra cada pequena conquista.
A saúde e flexibilidade da bacia desempenham um papel fundamental no bem-estar físico e emocional. A bacia é uma estrutura central do corpo humano, composta por uma complexa rede de ossos, músculos e articulações. Os seus principais componentes incluem os ossos ilíacos, sacro e cóccix, bem como uma variedade de músculos como os glúteos, quadríceps, isquiotibiais e músculos abdominais.
Manter a flexibilidade da bacia é essencial para uma variedade de atividades diárias e exercícios físicos. Infelizmente, muitas pessoas enfrentam problemas de pouca flexibilidade na bacia, especialmente aqueles que passam longos períodos sentados no trabalho ou em frente a um computador. A falta de movimento pode levar à rigidez e tensão nos músculos da bacia, contribuindo para dores lombares, desconforto na região da pélvis e até mesmo problemas posturais.
Além disso, indivíduos envolvidos em atividades físicas intensas, como corrida e ciclismo, também podem experimentar limitações na flexibilidade da bacia devido ao encurtamento dos músculos flexores da bacia. A falta de mobilidade nessa região do corpo pode afetar a biomecânica do corpo durante essas atividades, aumentando o risco de lesões e comprometendo o desempenho.
Felizmente, a prática regular de exercícios de yoga pode ser uma solução eficaz para melhorar a flexibilidade, ajudando a alongar os músculos da pélvis, promovendo uma maior amplitude de movimento e aliviando a tensão acumulada. Além disso, a prática da consciência corporal que o yoga desenvolve, pode ajudar os praticantes a identificar e corrigir desequilíbrios posturais e padrões de movimento prejudiciais.
A seguir iremos ver algumas posturas que promovem uma maior flexibilidade e estabilidade nesta importante região do corpo.
Senta sobre os calcanhares, deixando os dedos grandes dos pés unidos e os joelhos afastados à largura da bacia ou, se possível, à largura do tapete. Desce o tronco à frente, deitando-o sobre as coxas ou passando com o tronco por entre as coxas, caso os joelhos estejam bastante afastados e pousa a testa no chão, relaxando o pescoço. Os braços permanecem esticados à frente, ao lado da cabeça, as palmas das mãos viradas para o solo. Caminha um pouco com as mãos para a frente, afastando ligeiramente a bacia dos calcanhares. Evite pousar os cotovelos no chão. Pressiona as mãos no solo, como se fossem ventosas e empurra novamente a bacia na direção dos calcanhares.
Pé entre as mãos, joelho fletido a 90 graus, ou seja, joelho alinhado com o calcanhar. Baixa a bacia o mais possível e pousa o joelho de trás no chão. Se tiveres dificuldade em pousar as mãos no chão, podes apoiá-las sobre blocos. Uma outra variação possível e elevar o tronco e os braços. Empurra a bacia para baixo e para a frente, mantendo o joelho da frente sempre na mesma linha que o calcanhar.
Fica em quatro apoios. Pousa o joelho direito à frente, junto ao pulso direito. Mantém ambos os lados da bacia alinhados com a frente do tapete. A perna esquerda fica esticada para trás. Desce a bacia em direção ao chão e, caso fiques com a bacia muito elevada, coloca um bloco ou almofada por baixo da coxa direita. Deita o tronco à frente colocando a testa sobre as mãos e relaxa profundamente. Tem atenção para manteres a bacia centrada, sem cair para nenhum dos lados. Repete com a perna contrária.
A partir da posição de quatro apoios, coloca o pé direito à frente, por fora da mão direita. O joelho direito fica dobrado a 90 graus, mantendo o joelho na linha do calcanhar. O joelho esquerdo mantém-se apoiado no chão o mais para trás possível. Quanto maior a flexibilidade, mais para trás o joelho esquerdo consegue ir. Leva todo o peso da bacia para baixo e para a frente. As mãos permanecem apoiadas por baixo dos ombros. Caso consigas intensificar, apoia os antebraços no chão, com os cotovelos alinhados pelos ombros.
Começa por sentar com as costas retas e as pernas esticadas à frente. Dobra os joelhos, unindo as plantas dos pés e afastando os joelhos. Aproxime os calcanhares da pélvis. Relaxa a região das virilhas, deixando que os joelhos baixem em direção ao chão, sem forçar. Agarra os pés ou tornozelos, alonga a coluna e abre o peito.
Começa por sentar com as pernas esticadas à frente. Em seguida, afasta as pernas o mais possível. Mantém as coxas ativas e os pés flectidos, ou seja, pontas dos pés para cima. Inclina o tronco à frente gradualmente, fazendo o movimento a partir da bacia.
Começa por sentar com as pernas esticadas à frente. Em seguida, dobra as pernas aproximando as coxas do tronco. Passa a perna esquerda por baixo da direita, puxando o pé esquerdo para junto da bacia do lado direito e depois cruza a perna direita sobre a esquerda, puxando o pé direito para junto da bacia do lado esquerdo. O objetivo é alinhar os joelhos um sobre o outro. Tenta manter ambos os pés à mesma distância da bacia. Ambas as nádegas devem estar assentes no chão.
Nas aulas de Vedānta e também nas aulas de Yoga, mais cedo ou mais tarde, encontrarás a palavra satyam, que significa honestidade. A honestidade é um valor a ser seguido diligentemente por todos os buscadores da Verdade, pois ela é o meio e o fim. Como conseguirá um buscador descobrir a verdade última de todas as coisas levando uma vida de mentira e falsidade?! Não é possível.
Dito isto, dizem os grandes mestres da nossa tradição que a prática da honestidade ou verdade, é um meio indireto para o conhecimento da Verdade. Por outras palavras, é uma porta que se abre para poderes seguir o caminho espiritual, o caminho da compreensão da realidade última de todas as coisas chamada Verdade. A verdade relativa, que é a que pomos em prática como um valor para seguir, é o meio indireto para alcançar a verdade absoluta, chamada em Sânscrito, também Satyam ou Sat, existência.
Assim como qualquer outro valor, como por exemplo, ahiṁsā, a não-violência, também satya, honestidade, contribui para o fortalecimento do carácter espiritual quando seguida com determinação e coragem pelo praticante. Sim, é preciso coragem para seguir o caminho da verdade, pois é necessário ser-se verdadeiro, o que, definitivamente, nos coloca em posições de muita vulnerabilidade, uma vez que ficamos expostos. Coragem será, então, neste contexto, a força e a determinação para se ser vulnerável perante a exposição e manter a honestidade em todas as nossas interações.
O caminho da verdade começa aqui e agora, aliás, já começou se estás a ler estas palavras. Quando olhas para ti com honestidade, quando falas de ti com honestidade, quando falas com os outros honestamente, estás a seguir esse caminho nobre. Há que respirar honestidade para se ser honesto, assim como há que respirar ar para se estar vivo, porque a vida espiritual depende da respiração do ar da honestidade.
A mentira é como uma sala abafada, sem oxigénio, viciada pelas angústias mofentas do ego que pretende passar uma falsa imagem de si para ser visto como importante. Abre as janelas do teu ser, sê transparente, deixa o ar entrar e purificar a tua mente. A verdade purifica, liberta a vergonha que se entranha nas paredes viscosas da mente, que aprisionam e condicionam, retirando-te a capacidade de viver espontaneamente, livre como uma criança.
Valorizar a verdade implica necessariamente o entendimento profundo da enorme perda causada pela mentira, pela falsidade e, simultaneamente, também implica o entendimento igualmente profundo do irreversível dano causado pela mentira.
O que se ganha com a mentira? Ganha-se ser mentiroso, o que obviamente não é desejável nem louvável e incorre em demérito próprio, destruindo um dos alicerces mais bonitos das relações humanas – a confiança. A confiança é nutrida com a verdade. A desconfiança é nutrida com a mentira. Estas são as regras do jogo.
Quando alguém é o recipiente da mentira de outro – sendo o mentiroso mais fácil de apanhar do que um coxo – mais cedo ou mais tarde, a mentira virá ao de cima. Quando a mentira vem ao de cima, uma e outra vez e rotulamos o outro de mentiroso por força das circunstâncias, então nessa altura nefasta e negra, a confiança, que demorou anos para ser construída e na qual assentou toda uma vida de relacionamento abençoado, vai abaixo, fica despedaçada em mil cacos, como um cristal de estimação que cai num passeio de rua sujo do calcar das pessoas.
A verdadeira vítima da mentira é o mentiroso que perde a credibilidade, o valor, a dignidade, os amigos e os amores. O alvo da mentira – porque a mentira é uma seta que também corrói aqueles que levam com ela – fica triste, dececionado, irritado, incrédulo, desconfiado e lamenta muito. Pode até ficar traumatizado e ganhar pistantrofobia – a fobia ou o medo irracional de confiar novamente nas pessoas. Fica clarissimo para todos, mesmo para aqueles que ainda estão ensonados, que mentir gera sofrimento e que é, sem dúvida nenhuma, uma forma de hiṁsā, violência.
Ninguém quer ter um amigo mentiroso, ninguém quer ter um pai ou uma mãe mentirosa, ninguém quer ter um companheiro ou companheira mentirosa. Todos esperam a verdade, até quando perguntam as horas ou por orientação. Todos querem a verdade quando lhe colocam uma pergunta, assim nos diz o senso comum. Se deseja a verdade, ofereça a verdade.
O ganho conferido pela verdade é a integridade. A mente pensa a verdade, a boca diz a verdade e as ações são a extensão dessa verdade. A pessoa fica inteira porque confia no seu potencial de vulnerabilidade e coragem. Aquele que mente obviamente esconde a sua fragilidade. A razão para isso pode ser o medo, a vergonha ou até segundas intenções. A razão é importante, claro, quando se tenta resolver problemas psicológicos e crescer emocionalmente, porém, mais importante é notar que a pessoa que mente fica dividida. Uma parte da pessoa quer mentir e mente, a outra parte, sabendo que mentir é errado, assiste passivamente, sendo incapaz de travar a mentira. De cada vez que se mente aumenta-se a divisão interna e a cada mentira mais e mais a pessoa fica dividida. Esta pessoa dividida acabará por deixar de confiar em si mesma, porque a força interna da verdade que assiste às mentiras tornou-se passiva e fraca.
Esta pessoa que deixa de confiar em si mesma, inevitavelmente assistirá à manifestação concreta da falta de confiança que gerou à sua volta – ninguém confiará mais nela, ninguém acreditará nela. Se a pessoa não confia em si mesma e mais ninguém confia nela, que tipo de estrutura relacional existe?! Nenhuma. Existe uma “pseudo-estrutura” relacional, tão volátil e útil como uma cadeira feita fumo. Por outro lado, a pessoa inteira, aquela que valoriza e implementa quotidianamente a verdade na sua vida, ganha a força da autoconfiança e a força da confiança que os outros depositam nela.
Diz a verdade, escolhe o melhor momento para o fazer. Se o momento não chegar, não mintas e também não a expresses. Diz que ainda não estáz preparada para o fazer. Quando o momento chegar, sê doce nas palavras que escolheres. Se a verdade não trouxer benefício, não fales se não for perguntado. Se for perguntado, responde somente se existir benefício para o ouvinte.
Deixo aqui um verso muito bonito da famosa Śrīmadbhagavadgītā para que possas contemplar no seu significado –
Uma pergunta frequente é a seguinte: – Professor eu só consigo imaginar o infinito numa galáxia no universo. O professor consegue imaginá-lo de uma outra forma?”
Repara, o infinito que é espacial ou temporal não é infinito, porque o tempo e o espaço não são absolutos. O infinito transcende todos os conceitos de espacialidade ou de temporalidade. Infinito é o “lugar” não-espacial e não-temporal onde o tempo e o espaço acontecem. Esse infinito és tu, aqui presente neste preciso instante. Se o infinito existe, então nele tudo existe, incluindo o tempo e o espaço, por isso, em momento algum estás separado dele, porque nada está separado dele, incluindo tu. Esse infinito só pode estar aqui e agora. Se está aqui e agora, és tu, porque tu estás aqui e agora. Seja lá o que for o infinito, não é espacial nem temporal.
A verdade do tempo, a realidade do tempo, não é um intervalo de tempo. A verdade do tempo é este preciso instante não medível, cuja natureza ou verdade transcende o tempo. Essa natureza é chamada Existência. A existência é o “lugar”, a verdade imutável onde o espaço e o tempo acontecem. Por outras palavras, o ser do espaço é a verdade do espaço. O ser do tempo é a verdade do tempo. O ser é a Existência, por isso pode ser chamado de Ser.
Qualquer objeto deste mundo, incluindo o espaço ou o tempo, são objetos do seu conhecimento. Por isso dizemos: A caneta é. Uma árvore é. A Terra é. O Sol é. O tempo é. O espaço é. Já paraste para pensar no que é o É?! O “É” é o Ser, a Existência livre de limitações. Não há nada que não seja. Este Ser, a Existência, não é limitado pelo tempo, nem pelo espaço, porque o espaço e o tempo são. Se te perguntar: onde existe o tempo? Provavelmente nunca te fizeram esta pergunta, por isso provavelmente nunca deves ter pensado na resposta. Estará o tempo nele mesmo? Está longe do infinito? Outra pergunta é: será que o tempo pode condicionar o infinito, será que tem a capacidade de condicionar o infinito? A resposta é que o tempo existe na Existência, onde tudo existe. Quando digo “o tempo é”, isso significa que o tempo existe. O tempo depende da Existência para existir, para ser, contudo, a Existência é independente do tempo. Por isso, o tempo não tem capacidade de condicionar a Existência. Quando o tempo acabar, a Existência continuará. Jamais a Existência descontinuará de existir.
A Existência é independente de tudo, existe por Ela mesma. Aquilo que existe por si só, aquilo que existe sem depender de nada para existir, é a Existência. Como nada está longe ou separado da Existência, porque a Existência é ilimitada, a Existência é infinita, a Existência é o Infinito.
As pessoas estão habituadas a pensar no infinito em termos temporais e espaciais, contudo, o infinito em si é atemporal e não-espacial. O Infinito é o Ser, é a Existência não limitada temporalmente e não limitada espacialmente. Pensa assim, a Existência “veste-se” da roupagem chamada espaço, que está intimamente associado ao tempo, mas em si mesma é totalmente independente do tempo e do espaço, porque quando o tempo e espaço terminarem, a Existência continuará a Ser, continuará a Existir. O Ser continua a ser, quer haja ou não tempo e espaço. Então, a Existência não é temporal nem é espacial, intrinsecamente falando, portanto, é ilimitada.
Agora, tendo uma mente humana habituada a pensar de forma polarizada, habituada a objetivar tudo, a tendência é tentar encapsular a Existência infinita, assim como encapsulamos todos os outros objetos de cognição. Contudo, não é possível ter a cognição do Infinito ou da Existência infinita, como quiseres chamar, da mesma forma que encapsulas uma caneta na tua mente. Se pensares em caneta, uma forma mental da caneta surge na tua mente. Isso é encapsular a caneta, é objetivar a caneta. O Infinito, como não é um objeto da perceção dos sentidos, não pode ser objetivado pela tua mente como um objeto, por isso não pode ser encapsulado. A tendência de o imaginar deve ser abandonada pois é infrutífera.
Ao tentar imaginar o infinito em termos temporais, a mente, sendo vítima da sua polaridade, vai imaginar tudo o que passou e tudo o que virá a ser. Como a imaginação é limitada, a imaginação do infinito será limitada, será finita, será uma mera aproximação infinitamente distante daquilo que é o infinito realmente. Em termos espaciais o mesmo acontece.
Se se condiciona o Infinito por tudo o que foi para trás e por tudo o que será para a frente, espacialmente e temporalmente, estamos a dimensionar o infinito e isso é retirar-lhe a infinitude. Por natureza o Infinito é o Absoluto, aquele que é um sem um segundo. Esse Absoluto é o que tu és. Ganhar esta visão: Eu sou o Absoluto – é o objetivo do estudo Vedānta.
Então, eu não imagino o Infinito porque nunca o conseguirei fazer, nem nenhum ser humano o conseguirá fazer, pelas razões acima apresentadas. Agora, eu sei que eu sou o Infinito Absoluto, eu sei que sou a Existência infinita que permeia todas as coisas, da qual todas as coisas dependem para existir. Eu sei que transcendo este corpo-mente e sei que transcendo todos os corpos, porque sendo eu Existência infinita, transcendo o tempo, transcendo o espaço e tudo o que neles os dois acontece. Por esta razão, também não existe a ideia de localização interna do Eu aqui dentro deste corpo. Tu és Existência infinita, tu não estás localizado num ponto temporal-espacial. Por outro lado, todos os pontos temporais-espaciais estão localizados em ti, Existência.
Agora darei um exemplo que ilustra bem o que acabei de mencionar. Estou sentado na praia e vejo uma onda a rebentar na areia. E pergunto: o que é mais verdadeiro, a onda ou o oceano? Para entender a resposta primeiro é necessário entender que a onda não existe sem o oceano. A onda nada mais é do que uma forma que o oceano manifesta. Portanto, a resposta mais verdadeira é o oceano. Porquê? Porque a onda é uma consequência ou produto do oceano, porque o oceano é a causa da onda. Certo? Agora a pergunta é outra e convida a ir mais fundo na análise: quando olho para a onda e para o oceano, vejo a água; o que é mais verdadeiro, a onda, o oceano ou a água? A resposta certa é água. Porquê? Porque onda e oceano são formas da água, são formas que a água assume. A água está na forma de onda e na forma de oceano. A água assume várias formas, pode ser gelo, neve, gota, vapor de água, nuvem, rio, etc. Mas, a verdade de todas as formas de água é a água. Só há uma verdade, a água, presente em todas as formas de água, manifesta como todas as formas de água.
Quando pergunto onde está o oceano, a resposta é: ele existe na água, porque é feito de água. Posso então dizer que, no exemplo, a verdade ou o ser do oceano é a água e posso dizer que a água é o ser de todas as formas de água. Todas as formas de água têm o seu ser na água, porque na realidade são água. A água que é sem forma, assume todas as formas, existe sem uma forma específica, contudo, pode ser todas as formas, tem potencial para ser todas as formas.
Quando se pergunta à onda que descobriu que é o oceano e que, acima de tudo, também descobriu que é água, onde está localizada, a onda responderá de várias formas. Como onda, está em dada parte do oceano, viajando nele. Como água, é o oceano inteiro, por isso está em todo lado. Se a onda se vê como na realidade é, portanto, se se vê como água, então ela não dirá que está localizada numa dada parte do oceano ou em si mesma. Ela dirá que está por todo lado.
Este é o exemplo. Agora há que entender o exemplificado – a Existência, o Infinito. Assim como a água, a Existência transcende todas as formas. Tempo e espaço existem na Existência, são formas da Existência e a Existência é a verdade de ambos, porque ambos não existem sem a Existência. Podemos ver o espaço como o vasto oceano e podemos ver o tempo como a deslocação que uma onda demora a percorrer certa distância do oceano. Então, assim como o oceano e a onda não têm realidade absoluta, porque a realidade deles é a água, da mesma forma, o tempo e o espaço não têm realidade absoluta, porque a realidade deles é a Existência. Assim como a água não tem forma e nesse sentido não é um objeto, também a Existência infinita, não tendo forma, não é um dado objeto sensorial. Não sendo um objeto sensorial não pode ser imaginada, não pode ser encapsulada pela mente. Contudo, pode ser apreciada em todos os objetos, porque todos os objetos são existentes.
A mente só imagina objetos, só imagina formas, sejam elas visuais, sonoras, linguísticas, matemáticas, etc. Tudo neste mundo, à exceção da Existência, é objeto do pensamento. A Existência infinita que tudo transcende, que transcende todas as formas, é o Eu, Consciência. Este é o conhecimento do Eu Ilimitado revelado pelo Vedānta. Por isso é que o Vedānta é um pramāṇa, meio de conhecimento, que revela a realidade ou verdade do Eu, que como não é um objeto dos sentidos não está disponível para ser conhecido por outros meios de conhecimento.
No 9º dia lunar a partir da lua nova, portanto, em śukla-pakṣa, nos quinze dias em que a lua fica mais brilhante, no mês de Caitra, entre Março e Abril, celebra-se por toda a Índia o nascimento de Śrī Rāma, um dos mais populares avatāras de Śrī Viṣṇu, a deidade responsável pela preservação e proteção do universo.
Diz-se que o nascimento dele foi há cerca de 5000 AC, em Ayodhya, Uttar Pradesh, no período do dia em que o Sol tem mais força, entre as 12h e as 13h horas.
Sendo descendente da dinastia Solar, era filho de Daśaratha, rei de Ayodhya e Kauśalyā. Tendo casado com Sītā, uma reencarnação da Devī, Śrī Rāma vê-se obrigado a abandonar a tomada de posse do reinado por força da vontade de seu pai, Daśaratha, que lhe pede para abandonar Ayodhya, momentos antes da tomada de posse.
Na realidade, Daśaratha viu-se obrigado a cumprir uma promessa feita no passado a Kaikeyī, sua segunda esposa e mãe de Bharata, irmão mais novo de Daśaratha. Ela, Kaikeyī, exigiu que Daśaratha cumprisse, naquele momento, a promessa que lhe tinha feito, que era realizar um desejo, fosse ele qual fosse. A razão da promessa de Daśaratha prende-se com o facto de querer reciprocar a ajuda que Kaikeyī lhe prestou no passado, tendo-lhe concedido um desejo, fosse este qual fosse. Portanto, Daśaratha passou um cheque em branco à sua segunda esposa.
Qual foi o desejo de Kaikeyī? Foi a coroação de Bharata, filho dela, em vez de Śrī Rāma, filho de Kauśalyā, a primeira esposa. Alguns poderão pensar que o rei poderia recusar satisfazer esse desejo e dizer a Kaikeyī que pedisse outro. Todavia, isso não era possível para um rei dharmico, cuja palavra era muito importante e que se via obrigado, por ser um kṣatriya, a cumprir com a sua palavra.
Na realidade, com a coroação de Bharata, o que Kaikeyī queria era ser a esposa mais importante de todas. Portanto, foi a avidez por reconhecimento, poder e fama que a fez proceder desse modo lamentável.
Assim sendo, com muito sofrimento, Daśaratha coroa Bharata, que se torna o rei. Porém, Bharata não queria ser rei e achava que o seu irmão é que era o rei justo, não somente pelas qualidade e virtudes que genuinamente possuía, que faziam dele um rei muito justo e um líder muito amado, mas porque o povo queria Śrī Rāma como rei.
Śrī Rāma, respeitando humildemente a decisão de seu pai parte para o exílio com Sītā, sua esposa e com Lakṣmaṇa, seu irmão mais novo, filho da terceira esposa de Daśaratha, chamada Sumitrā. Enquanto viviam na floresta, Sītā é raptada por Ravaṇa, um asura, que tinha muitos poderes sobrenaturais e os usava para o mal e para ganhar mais poder.
Śrī Rāma e Lakṣmaṇa, graças à incrível e corajosa ajuda do grande Hanumān, descobrem o paradeiro de Sītā, que estava refém em Lanka, o atual Shrilanka. A história diz que uma enorme batalha foi travada e que finalmente Śrī Rāma matou o demónio Ravaṇa e voltou com Sītā para finalmente governar Ayodhya.
A vida de Śrī Rāma pode ser conhecida pelas narrativas do grande poema épico escrito por Vālmīki, intitulado Rāmāyaṇa, as ayanas, “idas”, aventuras ou feitos, de Śrī Rāma.
Śrī Rāma inspira todos os seres humanos a conduzirem as suas vidas no sentido do dharma e da justiça, pois a sua própria vida foi um exemplo deles. Śrī Rāma era um exímio arqueiro que nunca falhava o alvo. Assim que ele se decidisse a soltar uma flecha, esta certamente iria acertar o alvo. A flecha é um indicador do karma que cada ser humano gera e que, inevitavelmente e infalivelmente, voltará a ele. Śrī Rāma é um avatāra de Viṣṇu, o Todo, o Absoluto, que é karmaphaladātṛ, o dador do resultado dos karmas. A flecha de Śrī Rāma indica isso mesmo, o karma que cada um irá ter.
Rāma era muito amado pelo povo pelas suas qualidades de liderança, pela sua justiça e pelo amor genuíno que tinha ao povo e à humanidade. Por isso mesmo é um modelo de liderança, um modelo para todos nós seguirmos.
A palavra Rāma é muito bonita e, para terminar, deixo aqui a sua derivação em Sânscrito para que possas apreciar a sua beleza:
यस्मिन् अनन्ते नित्यानन्दे चिदात्मनि योगिनः रमन्ते इति रामः ।
yasmin anante nityānande cidātmani yoginaḥ ramante iti rāmaḥ |
“A infinitude, a felicidade ilimitada, que é o Eu-Consciência, no qual os Yogins residem é Rāma”
Rāma é a Verdadeira Natureza, o Eu Ilimitado, o objeto de meditação espontânea dos Yogins.
A nossa vida é feita de vários tipos de relações, sem as quais não seria possível vivermos uma vida normal e equilibrada, porque muito do equilíbrio e força individual advém precisamente do equilíbrio e força ganhos nas relações. A todo o momento relacionamos-nos com algo, seja uma pessoa, um animal, uma planta, um facto, uma situação ou um objecto. Quando a pessoa não se relaciona com o mundo externo, é porque, nesse momento, provavelmente está a relacionar-se com o mundo interno. Não podemos abrir mão desta jóia de crescimento que são os relacionamentos.
Existem muitos tipos de relações interpessoais: temos relações interpessoais de sangue ou familiares, românticas ou afectivas, profissionais, amigáveis e também, podemos dizer, neutras, nas quais não há nenhum investimento emocional ou afectivo. Se alguém nos perguntar as horas na rua, há obviamente uma relação interpessoal, contudo é neutra, porque não há um investimento afectivo.
De entre as relações interpessoais, a primeira relação de um ser humano é com a mãe. Esta é uma relação tremendamente importante, não só porque um ser humano vive nove meses dentro de outro, mas porque será dependente dele por bastantes anos. Um filho literalmente habita no ventre da mãe, absorvendo umbilicalmente todos os nutrientes e oxigénio que precisa. Se não fosse assim não sobreviveria. A natureza é incrivelmente magnífica e sábia.
Depois do parto, que é a verdadeira chegada do bebé ao mundo, o cordão umbilical é cortado. Os dois, mãe e filho, são separados fisicamente, porém continuam juntos pelo milagroso amor de mãe. Temos então um bebé totalmente indefeso e incapaz de sobreviver sozinho, que se completa com uma mãe totalmente pronta, equipada e preparada para defender e nutrir a sua cria. Nessa altura, após o nascimento, apesar do bebé ter ouvido a voz do pai enquanto ainda estava dentro do ventre da mãe, ele conhece-o fisicamente, sentindo agora uma energia diferente, a energia paterna, da qual também ele é feito. Então, em condições normais, a relação com o pai é a segunda relação. Juntos, pai e mãe, são tudo o que o bebé tem.
A terceira relação que o bebé conhece é a relação entre o pai e a mãe. Ele absorverá tudo o que conseguir dessa relação. Todo o amor trocado entre eles será sentido pela criança. É claro que, mesmo durante a gravidez o bebé já foi tendo conhecimento dessa relação, porque os ouvia e sentia, contudo, como ainda não estava separado fisicamente da mãe, como ainda era parte dela, era diferente. Ainda assim, todo o amor e também o desamor que o casal experimenta durante a gravidez vai sendo registado e absorvido pelo bebé. Como todos bem sabemos, é importante que o pai e a mãe desenvolvam entre ambos uma relação honesta, amorosa, amigável e de companheirismo para que o bebé a assimile desde muito cedo.
Depois, à medida que vai crescendo e desenvolvendo-se, o bebé vai tornar-se uma criança, vai conhecer os seus familiares, os amigos dos pais e vai fazer muitas amizades com as quais terá oportunidade de brincar e aprender a relacionar-se. Eventualmente, terminará os seus estudos e descobrirá também qual o seu talento e contributo para o mundo, usando-o para prosperar financeiramente. Bem mais tarde, caso deseje, independentemente da sua orientação sexual, poderá ter um parceiro ou parceira com quem poderá ter um bebé, seja ele biológico ou adoptado. Este é o ciclo – nascer, crescer, estudar, trabalhar para prosperar financeiramente, constituir família, aposentadoria e morrer.
Algumas pessoas descobrem que este ciclo, apesar de ser normal, é incompleto. Falta-lhe algo, porque a vida não pode ser simplesmente isto. Não faz sentido trabalhar toda uma vida para depois morrer e deixar tudo para trás. Se supusermos que este ciclo é completo, então temos que admitir que ele é sem significado, simplesmente pelo facto de que as pessoas não se sentem realizadas, mesmo tendo realizado com sucesso todos os passos do ciclo. Se o ciclo fosse completo, então as pessoas, tendo-o terminado, deveriam sentir-se completas e realizadas, o que não acontece.
Ignorando a dimensão espiritual de si mesmo e, consequentemente, concluindo que tudo o que a pessoa é, é somente o complexo corpo-mente, naturalmente surge insuficiência, porque o corpo, a energia vital e a mente são insuficientes. Por outras palavras, há um senso de insuficiência centrado no corpo, por isso a pessoa pensa: “não sou suficientemente bonito” ou “não sou suficientemente alto”, etc. Há um senso de insuficiência centrado na energia vital e há também um senso de insuficiência centrado na mente. Este senso de insuficiência é transversal e condena a pessoa a desejar ser mais: ser mais em termos de corpo, ser mais em termos de energia e ser mais em termos da mente. Então, é esta insuficiência vestida de desejo que empurra e motiva ferozmente as pessoas para a acção, agir para serem mais, agir para serem diferentes, agir para serem melhores.
Como acabar com o feitiço? Há que recorrer à magia, há que recorrer a um mago. O mago é chamado guru, mestre ou professor. Guru é a pessoa que remove a escuridão. A sílaba “gu” representa a escuridão e a sílaba “ru” representa o removedor. Qual é o feitiço? É a ignorância. Qual é o antídoto? É a poção mágica chamada conhecimento que quebra o feitiço, que faz a pessoa sair da falsa fantasia. Qual é a falsa fantasia? É a pessoa acreditar que é somente o corpo-mente e que não existe uma dimensão mais profunda em si. Sem receber a poção mágica do conhecimento, ninguém conseguirá por si mesmo livrar-se do feitiço, porque o feitiço é a própria vida que é tida como real na qual a pessoa vive.
Fica claro, agora, que esta última relação é muito, muito importante. Todas as relações são importantes, mas três são as que se destacam: a relação com a mãe, com o pai e com o mestre. A relação com o mestre é a mais peculiar destas três, porque, apesar de geralmente não ser uma relação familiar ou de sangue, encontramos no mestre uma figura tanto paternal, quanto maternal. O mestre é simultaneamente o pai e a mãe espiritual e o aluno é o bebé espiritual.
Esta não é uma relação de troca, simplesmente porque o mestre não recebe nada. Quem recebe é somente o aluno. Recebe o conhecimento de si mesmo, que é a poção mágica que o liberta do feitiço. Esta relação é destinada a isso mesmo e a nada mais – remover a ignorância que o bebé espiritual tem para que fique livre do saṁsāra, para que fique livre do sofrimento que é a constante insuficiência sentida durante a vida. Se a mãe e o pai trazem a criança ao mundo, ao saṁsāra, é o guru e mais ninguém que a retira do saṁsāra, retirando também por vezes o seu pai e a sua mãe.
Imaginem alguém que caiu em areias movediças. Quanto mais essa pessoa se mexe, mais ela se afunda. Sozinha não conseguirá sair e morrerá a tentar. É uma aflição, é um sofrimento. O saṁsāra é isto mesmo. As pessoas estão nas areias movediças da vida, sofrendo da insuficiência, do vazio, do senso de inadequação causados pela ignorância, esperando em vão que, sozinhas e através da acção, se consigam soltar e ficar livres, mas isso nunca chega a acontecer. Quanto mais agem, mais se fundam nas areias movediças da vida. Repara no seguinte, que é muito importante: os que pensam que casar é a solução, geralmente desiludem-se e acabam divorciados, porque casar vai com certeza revelar o senso de insuficiência enquanto marido ou mulher; os que pensam que ter filhos é a solução, esses certamente se desiludem e muito rapidamente entenderão a quantidade de insuficiência e inadequação que está centrada em ser pai e mãe e toda a culpa inerente à parentalidade; os que pensam que a profissão é a solução, na aposentadoria claramente entenderão que não é. Quanto mais agem, mais se afundam. Este facto merece ser contemplado.
Como sair disto? Primeiro, é necessário compreender que sozinho não será possível. Depois, é necessário pedir ajuda, é necessário gritar bem alto para que alguém ouça e venha ajudar. Depois, é necessário confiar que essa pessoa que vem ajudar e que está livre das areias movediças nos consegue ajudar. Finalmente, é necessário colaborar com a ajuda que nos está a ser dada.
Que troca existe entre a pessoa que salva outra das areias movediças? Nenhuma. Uma salva a vida à outra e a outra ficará eternamente agradecida por ter sido tirada de lá. O guru é a pessoa que está na terra firme do conhecimento, livre e que possui a capacidade e as ferramentas necessárias para ajudar outra a sair das areias movediças do saṁsāra. Para isso, a pessoa tem que pedir ajuda, tem que pedir para ser ensinada. Este pedido resulta da compreensão de que sozinha não consegue resolver o problema. Então, tem que haver total confiança no guru, assim como tem que haver total confiança da pessoa que está a afundar-se em areias movediças na pessoa que a irá tirar de lá. Enquanto isto não for percebido, não há verdadeiramente uma relação entre o aluno e o mestre.
Śiṣya é uma palavra muito significativa, pois significa śikṣaṇīyaḥ, aquele que é para ser ensinado, aquele que merece ser ensinado. Isso significa que o aluno deverá reunir ou fazer por reunir tudo aquilo que o ajudará a colaborar com o trabalho do professor. O trabalho do professor é ensinar e transmitir o conhecimento para a mente do aluno. Então, torna-se óbvio que a colaboração do aluno é em desenvolver as qualidades mentais necessárias para poder aprender o melhor possível. Aqui não estamos somente a falar de qualidades cognitivas, como a atenção e o raciocínio. Estamos também a falar de inteligência emocional, a capacidade de lidar saudavelmente com as emoções. Tudo isso é esperado do aluno, tudo isso é a sua colaboração com o professor e com o ensinamento. Quanto melhor for o crescimento em termos de maturidade, melhor é a colaboração do aluno.
Como invocar o professor na pessoa que desempenha o papel de professor?
A honestidade, o respeito e a humildade e outras virtudes formam a estrutura que permite que o amor se manifeste. O aluno sentirá amor pelo professor e vice-versa. É este amor que torna a relação única. É um amor livre, porque o propósito é a própria liberdade, na qual o aluno descobre que, essencialmente, ele não é diferente do guru.
O Natal está mesmo a chegar e logo depois chega também o novo ano de 2022. Para quase todos nós esta é uma altura de reunião familiar e também de muita reflexão porque mais um importante ciclo está prestes a terminar.
Nesta altura temos a oportunidade e também o oportuno pretexto para dar o amor e o carinho que sentimos às pessoas que nos são especialmente queridas. Muitos fazem-nos com mensagens e telefonemas desejando o melhor, desejando muito amor, paz e abundância. Outros, podendo, viajam para se encontrarem “em carne e osso” com os seus familiares, comprando-lhes prendas e presenteando-os com as comidas e as bebidas típicas desta época, que compraram especialmente para o efeito, para que nada falta na consoada e no dia de Natal. Os que não podem viajar para estarem juntos presencialmente, seja por questões profissionais, económicas ou familiares, têm a oportunidade de fazer uma consoada virtual por Zoom, Skype, Whatsapp, o que não sendo o melhor, é sem dúvida bem melhor do que nada! Outros ainda, devido às angularidades austeras e implacáveis da vida, passam esta época mais sós, lembrando com muita saudade os que já partiram, desejando a sua presença e carregando no peito a dura dor da sua ausência. Cada um vive o Natal e a vinda do ano novo à sua maneira, de acordo com a sua educação, valores, e condição atual. Contudo, podemos dizer que a busca por dar e receber amor é transversal, é geral, é universal.
Quando penso no Natal, invariavelmente penso no grande Mestre Jesus e em tudo o que ele representa e lembro um dos seus maiores ensinamentos, senão mesmo o maior – o do Amor ao próximo. Geralmente, dirigimos o nosso amor aos que são importantes para nós. Somente as pessoas queridas, íntimas, significativas, que geralmente são familiares e amigos recebem o nosso amor. Se assim é, então este amor é limitado, é limitado na sua expressão – é um amor pequeno que ainda precisa de crescer.
Este amor cresce quando nos damos conta de que somos uma só Humanidade. Este amor cresce quando nos damos conta de que somos uma só Vida. Este amor cresce quando nos damos conta de que somos uma só Terra. Este amor cresce quando nos damos conta de que somos um só Universo. Este amor cresce quando nos damos conta de que somos um só Ser. Este amor cresce quando nos damos conta de que somos todos Um. O entendimento deste ensinamento – Somos todos Um – é a base para a expressão do amor incondicional, chamado dayā, compaixão, que é o que Jesus realmente quer dizer com “Amor ao próximo”. O nosso querido mestre Swami Dayānanda disse uma vez numa das suas aulas: “a expressão dinâmica do Ser, é a compaixão, é o amor.”
A questão agora é a seguinte: se a expressão dinâmica do Ser é o amor, a compaixão, então porque é que todas as pessoas não vivem expressando amor e compaixão?
Esta pergunta é muito importante e a resposta ainda mais. A realidade é que todos conseguimos expressar amor. Isso é facilmente apreciado na forma amorosa em que qualquer ser humano, em situações normais, trata um bebé ou até um animal. Os animais e os bebés invocam em nós a pessoa amorosa, a pessoa compassiva. Na presença deles o amor naturalmente surge. Surge porque eles não invocam resistência em nós, surge porque podemos ser quem realmente somos sem o medo de sermos julgados. Então, presta atenção, o medo de sermos julgados e a nossa resistência interna ao momento presente, ao que estamos a experienciar a dada altura, são bloqueadores do amor.
E mais, quando cuidamos de um animal de estimação descobrimos em nós uma grandeza, a grandeza de contribuir, de contribuir para o bem de alguém diferente de nós. A descoberta desta grandeza é a porta de entrada para o entendimento de um ensinamento profundo – o amor e cuidado que damos aos demais é imensamente curativo, é extremamente sanador do ponto de vista emocional. Porquê? Porque esta grandeza, a capacidade de dar amor ao próximo, tem o potencial de se transformar em profunda gratidão, a gratidão que vem do reconhecimento de ser privilegiado por estar numa posição de conseguir dar amor e cuidado. Isto o dinheiro jamais comprará. A única moeda de troca para a gratidão é o amor. Somos gratos a quem nos faz bem, a quem nos ama. Se faço bem a mim, sinto-me grato. Se me fazem bem, sinto gratidão por quem me faz bem. A regra é simples: quanto mais amor deres, mais gratidão sentirás. A gratidão é a bênção que Īśvara nos dá de presente por darmos amor, por termos compaixão.
O segredo para o amor incondicional é conseguires expandir o senso de “eu” o mais que puderes. Expande-o para o Universo Inteiro e verás o que acontece. Ficarás surpreendido. Sentirás amor pela terra húmida, sentirás amor pela água, sentirás amor pelo ar que respiras, sentirás amor pelo Sol, pela Lua e pelas estrelas.
Sentirás amor pelas formigas, mesmo que elas decidam que o pote de mel e o pacote de bolachas são delas e não teus. Sentirás amor por todas as criaturas. Sentirás amor por tudo e sentir-te-às infinitamente grato por poderes sentir amor de forma não limitada.
Talvez o Natal seja renascer nessa pessoa em quem o amor incondicional se manifesta sem resistência. Talvez o Natal seja renascer nessa pessoa em quem a compaixão brota como a água duma nascente. Talvez o Natal seja a descoberta de que essa pessoa chamada Jesus, nosso Mestre, já existe dentro de ti.
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