Yoga na escola

Maio 30, 2017

Texto de Julita Figueiredo

Julita Figueiredo é professora do ensino básico desde 2000. Após três anos de Formação em Yoga na Educação (R.Y.E) e um estágio internacional R.Y.E. em França, começou a aplicar técnicas específicas de Yoga voltadas para a Educação no contexto sala de aula.

 

 

A prática de yoga é para mim muito importante e uma paixão. Aprendi a sentir, usufruir do yoga e a agradecer todos os benefícios que a minha prática pessoal me tem trazido. Sou professora do Ensino Básico há 15 anos e pratico yoga para aí há metade desses. Gosto de ensinar e aprender com as crianças e, apesar da tarefa profissional ensino/aprendizagem se ter vindo a complicar nos últimos tempos, com as “minhas crianças” ensinei e aprendi a valorizar e cultivar um espaço de partilha, onde nos sentimos bem. Aprendi a usar técnicas de yoga na sala de aula e, a partir do momento em que as apliquei, nada voltou a ser como antes. Não consigo estar na sala de aula sem as usar.

 

Hoje em dia, sabemos bem como as crianças estão rodeadas de excesso de estímulos, com um horror de horas nas escolas e ATLs, a serem pressionadas para serem as melhores nesta ou naquela área, com falta de autoconfiança, falta de tempo para estar em contacto com a natureza, falta de tempo com os pais... a sentirem o acelerar das suas vidas, sem nada poderem ou saberem fazer para parar um pouco e, simplesmente, sentir.

 

Eu e quase todos os professores que conheço, falam da falta de concentração, da indisciplina e da falta de autoconfiança, como sendo dificuldades que atrapalham um bom desempenho escolar dos nossos alunos. Estas técnicas sobre as quais aqui escrevo, são exercícios simples de relaxamento e respiração usados no yoga e adaptados para crianças no contexto da sala de aula.  Para mim, são como uma alternativa metodológica que uso, a fim de enfrentar todas estas dificuldades no ensino e todo este mal estar sentido, que hoje em dia impede as crianças de serem “apenas” crianças e as rotula de “crianças problema”, hiper activas, hipo activas, mal comportadas, etc.

 

Em primeiro lugar, acho essencial que as crianças sintam que pertencem a um grupo e que se sintam bem e “encaixadas”. Viver o espírito de equipa é fundamental!

 

É como se estivéssemos todos em alto mar, a navegar no mesmo barco e este só pudesse seguir viagem com o trabalho e a força do grupo: içar velas, remar, segurar o leme... Todos são indispensáveis nesta viagem e só com a ajuda de todos, podemos seguir em frente. Sempre que exista um problema com algum trabalho no barco, todos os membros do grupo estão por perto para ajudar. E, seguindo assim, com este e muitos outros exercícios de partilha, vai-se desenvolvendo o espírito de responsabilidade perante um grupo. Noto que quando se cultiva este espírito de entreajuda, a turma fica mais coesa e todos estão mais atentos às necessidades dos colegas. Este espírito de “Viver Juntos”, como lhe costumamos chamar, precisa da constante vigilância do “Capitão do Navio”, o professor, que observa o estado de ânimo da sua tripulação.

 

É importante também “Limpar a Casa” de pensamentos negativos. Vamos cultivando o “pensar de forma positiva”. Tal como os adultos, tenho observado que as crianças que estão habituadas a pensar positivo, são mais calmas e livres de medos e angústias. É contagiante o pensamento positivo. Mesmo crianças que inicialmente não o conseguem fazer, por estarem, rodeadas do contrário, quando se habituam a ouvir e a ver palavras e gestos positivos, começam a fazer o mesmo. Para elas é tão fácil imitar os adultos! Que o façam sempre pela positiva! Frequentemente, fazemos exercícios de visualização, em que elas se imaginam a conseguir as suas pequenas conquistas, a sentirem-se bem, em paz, seguras.

 

Por vezes, são histórias simples, exemplos do quotidiano, gestos de colegas... Enfim, tudo vale quando a intenção é desbloquear, abrir, irrigar o cérebro. Seguir o lema “Eu Consigo” e deixar as palavras contrárias (não consigo), que são proibidas, fora da sala de aula. E quando algo, seja uma matéria, um exercício de matemática, uma questão do texto, etc, lhes complicar a vida, surgem as respostas: Vou tentar - tento outra vez – consegui - vou pedir ajuda.

 

Depois de eliminarmos todas estas toxinas e pensamentos não tão positivos, preocupamo-nos então com a postura! Sentados nas cadeiras, ou em pé, é importante cuidar da nossa “Árvore da Vida”, a nossa coluna. Terminada uma tarefa e permanecendo sentados, colocamos as mãos atrás da nuca! Simples, verdade? E esse gesto torna-se num código que me permite saber quem termina a tarefa, além de os manter uns segundinhos ocupados a respirar fundo e a sentirem-se bem. Também podemos usar a personagem de um texto que, por acaso, é uma árvore, aproveitar para fazer uma pausa e colocarmo-nos ao lado das mesas, de pé. Esticar os nossos ramos, baloiçá-los para a direita e esquerda, para a frente e para trás... Tão bom sentir o nosso corpo a esticar quando já tínhamos estado um bom bocado sentados! É só puxar pela imaginação e, num piscar de olhos, a coluna está direita, a autoconfiança estimulada, movimentação do diafragma melhorou e, por consequência, uma melhor oxigenação de todo o corpo. Tão bom e fácil ter este cuidado!

 

Ainda através de exercícios de relaxamento e de respiração, a criança aprende a controlar a sua agitação e a conseguir ouvir melhor o que lhe é transmitido. Usando exercícios respiratórios simples, reparo que não só se consegue acalmar as crianças, como também energizar, conforme a actividade que se se pretenda fazer a seguir. Por exemplo, depois de um intervalo em que os alunos lancharam, correram, riram, cantaram, conversaram, entra na sala apenas o corpo da criança, enquanto a sua mente ainda está lá fora no recreio, a pensar no quanto se divertiu a saltar à corda. Neste momento, podemos usar um respiratório simples, como por exemplo: sentados nas cadeiras, com as costas direitas, respirar fundo e colocar as mãos na barriga, inspirando e expirando, acalmando a respiração; continuando a respirar fundo, levar depois as mãos às costelas e depois até ao peito, respirando cada vez mais calma e profundamente. Se queremos energizar, podemos aliar a respiração a gestos. Por exemplo: sentados nas cadeiras com os braços esticados, punhos fechados com força, inspiram e expiram soltando e abrindo as mãos. Respirar bem, ter calma. Quando experimentamos essas sensações, somos invadidos por um profundo bem estar. E não é assim que devem sentir-se as crianças quando estão na sala de aula a aprender? Será que conseguem aprender de outra forma? Talvez, mas não tão bem...

 

Usar momentos de pausa é para mim essencial. Se nós concedermos pequenas pausas no tempo pedagógico, permitimos que as crianças processem a informação que lhes demos. Esse tempo que “perdemos” em pausa, será ganho em maior atenção e disponibilidade para o que vem a seguir. Relaxamento, que pode ser feito, simplesmente, fechando os olhos por uns instantes e escutando uma suave melodia. Permitimos assim ao cérebro assimilar as informações recebidas anteriormente. Aproveitamos também para recarregar baterias, descansando!

 

Por fim a concentração! Constantemente, os professores chamam a atenção, ou até mesmo repreendem, alunos por não estarem atentos. Mas será que as crianças foram ensinadas a concentrar? Em primeiro lugar, a mente deve estar calma para depois, como um raio laser, focar apenas no que é pretendido. Depois, damos espaço à mente para reproduzir interiormente todas as sensações e conceitos. Sermos capazes de prestar atenção, escutar para reter o que devemos guardar na cabeça. Na sala de aula, treinamos exercícios simples com imagens ou sons, nos quais a criança, depois de ver uma imagem ou escutar um som por alguns minutos, fecha os olhos guardando o que foi visto ou ouvido. Após lhe termos dado tempo para assimilar, ela descreve o que viu ou ouviu.

 

Estes exemplos são alguns que me ocorreram, mas muitos outros podem e devem ser feitos, pois as crianças gostam de surpresas e novidades. Como já referi, não consigo ensinar sem usar estas técnicas de yoga. Podia fazê-lo? Certamente que sim, mas não seríamos tão felizes!

 

 

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